No ônibus conscientizando as pessoas
O portão se abre e uma figura simpática nos recebe. “Vamos chegar”,
diz, deixando escapar uma voz que remete aos velhos circos de nossa
infância. “As pessoas dizem que eu tenho voz de palhaço”, diverte-se
Jadir de Souza, o Palhaço Narizinho. Na casa simples do Jardim Carioca, o
capixaba de 66 anos mostra com orgulho diplomas e condecorações na
parede, entre elas a de Palhaço Revelação, que ganhou em uma das edições
do Festilhaço, em 1999, quando conheceu o famoso Palhaço Carequinha.
O registro junto ao amigo é apenas um, entre muitos que ele tem
catalogado em uma pasta. “Minha vida dá uma novela”, comenta, enquanto
tira do armário um macacão largo, de bolas vermelhas, já bem desbotado, o
primeiro figurino do Narizinho. E é esta, entre tantas peças
coloridas, que ele escolhe para mais um dia de trabalho. Diante de um
pequeno espelho, espalha em volta da boca duas camadas de tinta colorida
e, em poucos minutos, se transforma em Narizinho, o palhaço que entra,
de surpresa, nos ônibus da cidade, conscientizando sobre os perigos da
dengue em minipalestras que envolvem a distribuição de cartões postais e
a contribuição voluntária dos passageiros.
Palhaço Narizinho na Manifestação pelos Royaltes
Acompanhamos Narizinho em seu trabalho. A chegada ao terminal
rodoviário é uma festa. “Já conheço essa figura”, diz o motorista de uma
das linhas de ônibus. A bordo de um dos coletivos, vestindo um colete
com as inscrições “Dengue Não”, Narizinho distribui os postais com
poemas de sua autoria no verso e usa seu carisma para conquistar a
simpatia de seu respeitável público, ainda sob olhares desconfiados.
“Muitos pensam que vou pedir dinheiro. Aos poucos eles entendem a
proposta e, às vezes, saio aplaudido”, observa.
Aos poucos o lugar vai ficado imprensado, mas Narizinho não para de
falar sobre assuntos de interesse coletivo, sobretudo prevenção à
dengue. É a palhaçada com conteúdo. “Ser palhaço não é simplesmente
pintar a cara. Não sou um vendedor de postais. Sou um artista. Não é
qualquer pessoa que pode ser chamada de palhaço. Aliás, tenho orgulho de
ser chamado assim”, comenta o palhaço, que vive da aposentadoria e é
filiado ao Sindicato dos Artistas, o SATED.
O pouco tempo que passou nos bancos escolares é compensado pela
larga experiência de vida. Depois de cinco anos em Campos, Narizinho
está de malas prontas para voltar para o Rio, onde começou com o
trabalho nos ônibus. “Gosto muito de Campos, mas aqui não tive muitas
oportunidades”, diz, deixando escapar um ar de tristeza por trás da
maquiagem alegre. Com o lema “Brinco pra não brigar. Vivo rindo pra não
chorar”, ele segue perseguindo seus sonhos, afinal, o espetáculo não
pode parar.