Inscrições para editais de apoio à Pesquisa e Criação Artística e de projetos de website ficam abertas até dia 23
Artistas contemplados na edição passada debatem os espetáculos realizados através dessas chamadas públicas
Artistas aprovados por esses editais no ano passado contam o resultado de seus trabalhos. Dois dos projetos contemplados buscam demonstrar, através da dança, a relação que as pessoas têm com a memória. A coreógrafa e pesquisadora Ivana Menna Barreto, por exemplo, observou o jeito que as pessoas têm de se vestir, caminhar ou se despir. Suas lembranças em relação a esses atos deram origem ao espetáculo Sem o que você não pode viver?, em cartaz até o dia 11 de dezembro, no Espaço Sesc, em Copacabana. A partir das respostas obtidas, Ivana leva aos palcos, de maneira intimista, uma discussão sobre as escolhas de cada um. “O projeto investiga, através de ações banais, se nossos movimentos são resultado de nossa vontade ou se são já afetados pelas ações de outros. Qual é nossa responsabilidade nos dois casos?”, indaga.
Para o bailarino e coreógrafo André Bern, o espetáculo Senha de acesso, que ficou em cartaz na cidade entre os dias 23 e 26 de novembro, a memória não foi o tema, mas sim o ponto de partida de sua pesquisa. Segundo Bern, “a ideia era revelar os bastidores da dança, o dia a dia de treinamento e ensaios de um bailarino”. Para isso, lembranças serviram como senha de acesso, daí o nome do projeto, para despertar reações corporais e gestuais nos bailarinos. “Desenvolvemos em grupo uma relação de muita intimidade, mas que também implica muita briga, e divergência. Acho que passamos muito bem por toda a experiência e nossa integração é visível quando nos apresentamos juntos”, afirma Bern.
Além de ‘memória’, o ‘tempo’ foi assunto estudado por artistas contemplados pelo edital. Para a instalação sonora AM:PM, que será exposta no próximo ano, o artista Ricardo Cutz sentiu necessidade de explorar a relação dos indivíduos com seu tempo conectado. “Leituras sobre as mudanças nas relações tradicionais de trabalho, hiper-conectividade e mobilidade (mídias móveis) motivaram o início do projeto”, explica. A partir daí, Cutz deu continuidade a uma pesquisa iniciada nos trabalhos de conversão de dados realizados a partir de outras experiências, uma delas com GPS, por exemplo.
A ideia de Cutz é a criação de um relógio de ponto que terá seus dados convertidos para controle de uma instalação sonora. “Quero mostrar como as pessoas lidam atualmente com a relação do tempo do trabalho, tempo do lazer etc., e de que maneira as mídias móveis e a hiperconectividade esgarçaram os limites entre essas categorias de organização da vida”, conclui.
Outro projeto com estreia marcada para 2012 é o espetáculo Lagrimar, idealizado por Daniel Puig. A pesquisa previa uma obra para orquestra de câmara e meios eletrônicos em tempo real, e o resultado é um conjunto se locomovendo livremente com uso de recursos eletrônicos e identidades cênicas, como iluminação e figurino. A partir de questionamentos da música de concerto contemporânea, como ‘onde termina a música e começa o gesto?’, o artista encontrou a resposta nas novas tecnologias. “Elas permitem um aprofundamento dessa investigação, pois fornecem meios em que é possível pensar artisticamente a relação dos diferentes aspectos de uma performance”, diz.
Com apresentação prevista, para o próximo dia 12/12, na Escola de Música da UFRJ, a peça Suíte Jongo da Serrinha também foi contemplada na área musical. A obra transporta elementos rítmicos, melódicos e ritos e gestuais do jongo para uma orquestra, nesse caso, a Orquestra Sinfônica da UFRJ. Para o músico e criador Filipe de Matos Rocha, o objetivo do projeto “é criar intercâmbios entre as diferentes representações culturais, reduzindo a distância entre as que ainda são consideradas de ‘elite’ e as expressões folclóricas e populares”. Além disso, a peça é a realização de um sonho antigo do Mestre Darcy, o baluarte do Jongo no Sudeste, de levar o jongo para a orquestra.
O próprio Filipe reconhece que não tinha consciência da importância do Jongo na história do estado. Foi a partir da sugestão de seu professor orientador, Pauxy Gentil Nunes, para que ele abordasse um assunto referente ao Rio de Janeiro, que o músico notou a riqueza jongueira. “Tive a oportunidade de fazer várias descobertas, assim como ajudar no reconhecimento cada vez maior do jongo. Um deles foi seu registro pelo Iphan, em 2005, como patrimônio imaterial do Brasil”, observa Rocha.
Novas linguagens
A dramaturga Renata Mizhari também não tinha um tema específico em mente para o projeto que desejava realizar. Porém, seis anos atrás, leu uma reportagem sobre judias polacas que vieram para o Brasil pensando em se casar, mas foram obrigadas a se prostituírem. Foi o insight para o assunto se desenvolver até a criação da peça Polacas!, com leitura marcada para janeiro. Renata fará um paralelo com questões contemporâneas. “Podemos contar parte importante da história do Rio de Janeiro a partir desse tema, focar na faceta comportamental”, revela a autora.
Pesquisas e descobertas criativas também fazem parte da rotina da autora Juliana Pamplona, criadora do projeto Desestabilizadores de cena. No próximo dia 14, o Teatro Gláucio Gill vai receber a primeira leitura da peça, chamada provisoriamente de Desestabilizadores. “Tem sido uma experiência rica e desafiadora. Tenho certeza que vou modificar o texto até o último momento, para o desespero dos atores”, avisa.
A peça parte do universo da infância, mas é atravessado por questões como depressão, morte, perda da memória etc. “Na concepção do espetáculo, os fragmentos narrativos nunca se completam e os recortes temporais permanecem indeterminados”, classifica Juliana, que reforça a importância do apoio da Secretaria de Estado de Cultura na hora do artista pesquisar novas linguagens. “Esse tipo de incentivo cria condições favoráveis à renovação nas áreas culturais. Além disso, estou muito curiosa para ver como o público receberá a peça”, completa.
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Colaboração de Vanessa Didolich Cristani