CICLO SESI DE LEITURA DRAMÁTICA
LEITURA DRAMÁTICA DO TEXTO:
“O PAGADOR DE PROMESSAS” DE DIAS GOMES
NO TEATRO DO SESI - DIA 29 (TERÇA – ÁS 19:00 Hs)
(ENTRADA FRANCA)
Talento puro, Dias Gomes é um dos grandes nomes por trás dos folhetins mais criativos, importantes e amados da história da TV no Brasil. Além de brilhante, o baiano Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999) sempre foi precoce.Dias Gomes nasceu em Salvador e, desde muito cedo, se interessou por literatura e teatro. No início da adolescência já havia publicado um livro de poesia; aos 15 anos escreveu sua primeira peça, “A Comédia dos Moralistas”. A obra não chegou a ser publicada, mas foi premiada pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT).
O meu primeiro contado com a dramaturgia de Dias Gomes depois das telenovelas, foi com a montagem do clássico “O Pagador de Promessas” com direção do mestre Orávio de Campos Soares com o Grupo de Teatro do SESC em 1978. Em 1982 na função de diretor realizo o sonho de montar um texto até então inédito do Dias Gomes “As Prímicias” com o Grupo Teatral “Gente é pra Brilhar e Não Pra Morrer de Fome”. Lembro-me que conseguimos autorização do próprio Dias, éramos um grupo de universitários cheios de idéias e uma baita vontade de fazer teatro. O espetáculo foi um sucesso de publico e crítica e marcou uma fase.
Meu segundo trabalho com um texto do Dias foi através da montagem de outro clássico “O Santo Inquérito” com o Grupo “Para Todos” da Faculdade de Filosofia de Campos, em 1994, esse espetáculo em particular foi especial pois, venceu o I Festival de Teatro Estudantil Aberto - Promovido pela Prefeitura de Campos, nas Categorias – Melhor: Espetáculo, ator, ator coadjuvante, cenário, iluminação, maquiagem e texto.
Conquistou notoriedade com a peça “O Pagador de Promessas (1959)”, filme de 1962, dirigido por Anselmo Duarte, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes. O Texto “O Pagador de Promessas” abre na próxima terça, ás 19h o Ciclo SESI de Leitura Dramática no elenco os atores: Maycon Gual, Emanuele Paes, Amarildo Soares, Maria Áreas, Whiverson Reis, Wesley Cabral, Leandro Ribeiro, Juliana Souza, Carlos Almeida, Natália Lima, Marcio Ribeiro, Clayton Nunes, Rafael Lima, Jhonathan Park, Rossini Reis, João Luiz Junior, Pedro Fagundes – Sonorização – Mateus Áreas, Iluminação – Denys Lima. Trata-se de um texto escrito para teatro, ou seja, para ser levado ao palco, ser encenado.
A peça é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita. O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro.
O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho. A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões sócio-culturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:
a) à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;
b) à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;
c) à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;
d) ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.
Dono de um texto notável, que conseguia ser refinado e popular ao mesmo tempo, Dias Gomes, um dos maiores autores da história do teatro e da TV brasileira, foi empossado na Academia Brasileira de Letras em 1991. Morreu em São Paulo, aos 77anos.